quinta-feira, 23 de maio de 2024

BRASIL. GOVERNO AGUARDA TROCA NA FRENTE EVANGÉLICA PARA TENTAR APROXIMAÇÃO


  Deputados Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara (Republicanos-AM). (Fotos extraídas da comunicação da Câmara)






"Governo não consegue nos dar garantia alguma", diz presidente da frente


    A iminente troca de liderança na Frente Parlamentar Evangélica da Câmara dos Deputados traz à tona as tentativas infrutíferas do governo Lula em angariar apoio entre os líderes do segmento. A transição de poder entre as bancadas do PL e do Republicanos, prevista para o segundo semestre de 2024, põe fim a um acordo selado entre os deputados Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara (Republicanos-AM) – após suspeitas de irregularidades na última eleição para a presidência da bancada- e intensifica a interlocução liderada pelo Advogado Geral da União (AGU), Jorge Messias.

   A saída de Borges, figura vinculada ao bolsonarismo, e a entrada do ‘centrista’ Silas Câmara (Republicanos-AM), é a brecha aguardada pelo Planalto. Câmara tem relação de proximidade com o ex-ministro da Justiça e atual ministro do STF, Flávio Dino, e apresenta contingente considerável de votações alinhadas ao governo.

  O Diário do Poder apurou que Câmara já se movimenta para promover encontros entre os signatários da bancada e o AGU na intenção de alargar a influência do governo sobre o colegiado. Um jantar é aguardado para o próximo mês e deve também ter a presença do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski e do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

  Apesar dos esforços do Planalto e do apoio de Câmara, parlamentares consultados pelo Diário do Poder não acreditam na eficácia da estratégia governista. Abilio Brunini (PL-MT), membro da Frente Parlamentar, aponta que, apesar das investidas do governo petista, a maioria dos integrantes da Frente permanece na oposição. “Foi assim no último ano. Mas não mudou nada. Não representa o desejo da maioria, não significa nada”, destaca.

  Borges, prestes a deixar a presidência da Frente, desdenha das tentativas do Executivo em cooptar o colegiado, e afirma que Messias “cumpre uma missão por determinação do governo. Mas quando ele precisa nos dar uma resposta mais firme sobre aquilo que não abrimos mão, que é a chamada pauta de costumes, o governo recua. O governo utiliza a interlocução de Jorge Messias, mas não consegue nos dar, por meio desse diálogo, garantia alguma”, afirmou. 

  O líder do grupo evangélico afirma que o Executivo tenta conquistar os votos do colegiado para abrir vantagem na pauta econômica discutida no Congresso, mas enfatiza que a Frente Evangélica não milita nesse tema. “Pautas econômicas são tratadas via partido. O governo parece que não entendeu isso”, destacou. 

  E completou: “na prática, nada acontecerá, porque o governo continua com decretos e portarias malignas. Não nos aproximaremos enquanto a base governista manobrar por aborto e ideologia de gênero e enquanto a ministra da Saúde for a ativista Nísia Trindade”.

  A tranquilidade de Eli Borges ao descrever o atual status da relação entre os parlamentares evangélicos e o governo Lula reflete o pensamento de membros da Frente. Alguns deputados expressaram desconforto com a diferença na condução dos trabalhos entre as lideranças de Borges e Câmara. A divergência central reside no fato de que Borges prioriza pautas que os parlamentares denominam como ‘interesses do reino [de Deus]’, enquanto Silas Câmara parece mais preocupado em agradar ao governo.

  Um dos deputados que auxiliou Câmara na última formação de diretoria da Frente Evangélica considera que qualquer tentativa de aproximação com o governo não será bem vista pelos membros do colegiado, tampouco pelos evangélicos brasileiros. Procurado pelo Diário do Poder, Silas Câmara não se posicionou até o fechamento desta matéria.

  “Essa aproximação não será bem-vista pela bancada. Não transmite o sentimento da bancada e muito menos do nosso povo. Uma aproximação com um governo que defende tudo que a gente é contra”, declarou em off.

  O analista político Paulo H. Baltokoski observa que as movimentações do Planalto em relação aos evangélicos remontam ao início do governo Lula III, mas questiona a viabilidade desse alinhamento, dadas as divergências entre as pautas da Frente Evangélica e os interesses do governo. “A inclinação de uma parte do segmento evangélico é inconsistente, uma vez que as agendas da Frente são antagônicas aos objetivos governamentais”, pondera Baltokoski.

  Baltokoski ainda critica a inserção de Messias como interlocutor junto aos líderes evangélicos, argumentando que isso viola os preceitos constitucionais que regem as atribuições da Advocacia-Geral da União. “Articulação política não faz parte do escopo de atuação do AGU”, ressalta.

Do Diário do Poder

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