sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

História de infância:


O Menino da Vila Zara - II

Aquele menino com apenas dez anos de idade já contribuía muito na ajuda da renda familiar.  Apear de ser conhecido por Lito, era conhecido também como o Menino da Vila Zara! Nome do bairro onde ele residida há pouco tempo, pois recentemente tinha chegado do Bairro Mangabinha. No bairro Vila Zara, morava na Rua Toflo Coelho. Local onde já contava com muitos amigos! Pois tinha facilidade muito grande de fazer novas amizades! Próximo a sua casa tinha um campinho de futebol, para jogar bola; o tradicional “baba”. Para os meninos, não tinha hora certa, para correrem atrás da bola, pois os adultos também usavam o campo. Campinho de bola, de mais ou menos 250m/2. Ao lado do campo possuía um filtro abandonado; um poço com água abundante e cristalina de uma nascente. Naquela época, o Bairro, fornecia água para parte da cidade, através de atração animal. A água do “Mutucugê” era famosa!   Depois do “baba” os menos sempre suados se deliciavam com aquela água inesgotável, e abundante. Uma das grandes nascentes do Rio Cachoeira, que com o tempo, foram deixando de existir, dando lugar ao crescimento da cidade e, consequentemente contribuindo para a poluição do Rio, há alguns anos depois.  O poço do filtro, como era mais conhecido, era profundo e todos para ter acesso, tinham a obrigação de saber nadar!   

Tá lá o Menino da Vila Zara, jogando bola. Era enganjento e perrento, brigão, e metido a ser o melhor do baba, quando sua mãe Josefina lhe grita!

- Lito, já está na hora de levar a marmita de seu pai!

- Já vou mamãe! E o menino saia em disparada para atender a sua mãe e levar a comida de seu pai que trabalhava na Indústria de Chocolate HEELVETHIA, localizada no Parque Hugo Kaufmann, antes da existência do Bairro Jardim Vitoria. Isso nos anos 60, quando Itabuna tinha cerca de 50 mil habitantes.   

 O menino chegava, tomava um banho rápido para se livrar do suor! Pegava a marmita e seguia sua viagem, de mais ou menos, cinco quilômetros de distância de sua residência. De posse da marmita, com quatro pratos. Marmita brilhante, principalmente refletindo a luz do sol, pois d. Josefina, sua mãe, só deixava seu paneleiro como espelho usando bucha e areia. Lá, seguida o menino com muita pressa e responsabilidade para alimentar seu pai. Isso porque também tinha que retornar logo e enfrentar outra jornada à escola.

Depois da ponte do Tororó, mais conhecida como a Ponte dos Velhacos, nas imediações, onde hoje se localiza a Câmara de Vereadores, o menino seguia reto sua viagem, sem parar no caminho. Ordem de sua mãe e de seu pai. Ele só encontra empecilho, na fazenda de Chico Briglia, que tinha uma sede muito bonita, onde hoje está localizado o Shopping Jequitibá e contendo muito gado. Era que, no local, as vacas furavam a cerca e algumas  delas, se colocavam no meio do caminho. Estrada só para  pedestres, onde hoje se localizam as avenidas Aziz Maron e Mario Padre. Para o Menino Lito, era o maior sufoco, pois ele tinha muito medo de gado. Ficou traumatizado porque levou carreira  de uma delas, quando foi pegar jaca na Fazenda Progresso e foi salvo pelos ciganos, que passa na hora.  Com as vacas no caminho, ele esperava alguém para passar e furar o bloqueio... A esperança dele era o frei Joaquim Camello, que diariamente fazia o caminho naquele mesmo horário, com destino contrário. Isso acontecia porque o Frei estava construindo a Igreja Santa Rita de Cassia, na localidade chamada de “Fuminho”, hoje Bairro São Caetano.  De repente, o coração do menino batia forte, frei Joaquim estava chegando, entre o verde das árvores e a vegetação, ainda nativa, com muita plantação de banana e dendezeiros, o que provocava um lindo cenário, com o cantar de muitos pássaros, inclusive os aquáticos às margens do Cachoeira.  O Frei se aproximava, cada vez mais e, o menino, ansioso a espera-lo...

- Sua Bença Frei!
Dizia o menino Lito, com um sorriso largo nos lábios, pois sabia que o momento de pânico tinha acabado. Seu salvador chegou!   

- Deus lhe abençoe! Respondia o Frei, também muito satisfeito por ver o esforço daquele menino para ajudar ao seu pai e, ele, já sabia.
-Vamos! Acompanhe-me, essas vacas não metem medo a ninguém! E fique sabendo que todos nós somos seres de Deus!

Dizia o Frei, seguindo a sua viagem para o Bairro da Conceição, pois morava nos alojamentos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, juntamente com outros padres, inclusive frei Apolónio.  

O menino Lito, agradecendo ao Frei, no retorno para casa, após parar alguns segundos para admirar o Ibolelê, uma casa noturna daquela época e de cor chamativa, cheia de janeles e de portas, estilo barroco. Como não tinha ninguém para atravessá-lo no retorno, pois o gado ainda estava a espojar na estrada. O menino preferiria fazer um caminho mais longo, e seguia pela margem esquerda do Rio Cachoeira, passando em frente à Padaria Universal. Padaria essa, onde seu pai comprou muita massa para vender em sua quitanda, quando moravam na Rua Ana Nery, no Bairro Mangabinha, logo quando chegaram da cidade de Ibicaraí. O menino tinha que chegar a sua casa antes das 14h, pois tinha aula de reforço. Fato que acontecia quando ele não podia ir à escola pela manhã, devido a muito trabalho. E assim, ele cresceu com as grandes lembranças de sua infância e a saudade das águas saudáveis e cristalinas do Rio Cachoeira. Rio, que hoje é uma realidade de um passado, e ficção de tristeza de um presente avassalador.

Joselito dos Reis
Poeta e jornalista
08.02.2019                                   


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