sexta-feira, 28 de junho de 2013

Ilhéus: quase 500 anos de história a serviço da cultura



Em sua primeira viagem ao município, ocorrida em fevereiro deste ano, a esteticista carioca Ana Paula de Oliveira, de 32 anos, estava ansiosa para percorrer as ruas, conhecer as praças e visitar os locais que integram o cenário vivo do romance Gabriela, Cravo e Canela, do escritor Jorge Amado. “Vim a Ilhéus para experimentar a mesma atmosfera mágica vivenciada pelos personagens. Quero descobrir a cidade de Gabriela, o Vesúvio de Nacib, a noite de Tonico Bastos e os palacetes dos velhos e poderosos coronéis”, disse.
 
Testemunhos como esse reforçam a importância cultural que Ilhéus possui em todo o país e em várias partes do mundo. Por isso mesmo, com quase 500 anos de história, a cidade segue estimulando as diversas manifestações culturais, como forma de respeitar sua vocação e preservar sua memória. Eternizada internacionalmente através da obra de Jorge Amado, Ilhéus prioriza o setor com o claro objetivo de continuar sendo um importante polo cultural.



No bojo desse processo, o secretário municipal de Cultura, Paulo Atto, destaca a importância da elaboração do Plano Plurianual (PPA), instrumento que norteará as políticas públicas da cultura local para os próximos quatro anos (2014-2017). Ele informa que o documento será amplamente discutido durante a Conferência Municipal de Cultura, prevista para acontecer no próximo dia 16 de julho. “A proposta é que o PPA seja um instrumento de mediação entre a gestão e o planejamento do setor, na medida em que consiga articular as políticas públicas municipais e viabilizar o diálogo franco com a sociedade e com os governos Estadual e Federal. Tudo isso tornará possível a captação de recursos e a ampliação das realizações governamentais”, comenta Atto.


Prioridade - Marcado por um profundo respeito ao patrimônio cultural e histórico do município, o prefeito Jabes Ribeiro dá mostras claras de que, a exemplo de seus três primeiros mandatos, mais uma vez terá a cultura como uma das suas prioridades. Em apenas seis meses de gestão, o chefe do Executivo ilheense já adotou algumas medidas importantes para o fortalecimento do setor cultural. Uma das mais relevantes foi a transformação da antiga Fundação Cultural na Secretaria Municipal de Cultura. “Com isso, além de uma melhor representação cultural do município, também já está sendo possível imprimir mais agilidade ao processo de formulação das políticas públicas voltadas para o setor”, afirma o titular da pasta, Paulo Atto.


Nos primeiros seis meses de governo, o prefeito também decidiu reformar dois dos espaços histórico-culturais mais importantes do município: o Teatro Municipal de Ilhéus (TMI) e o antigo prédio General Osório, onde funcionavam a Biblioteca Pública Municipal Adonias Filho e o Arquivo Público João Mangabeira. Através de emendas parlamentares do deputado Mário Negromonte (PP), recursos da ordem de 750 mil reais já estão assegurados para recuperar o TMI. O projeto inclui a execução de diversas intervenções, como a substituição das poltronas, requalificação dos camarins e dos banheiros, recuperação das vigas estruturais e da cobertura da casa das máquinas e a execução de melhorias nos sistemas de iluminação e de ar condicionado. Além da aquisição de equipamentos técnicos da área cênica, a reforma inclui ainda a execução de obras voltadas para ajustar o espaço aos novos padrões de acessibilidade.


Com relação ao prédio General Osório, que foi praticamente abandonado pela gestão passada, a proposta do prefeito Jabes Ribeiro é buscar recursos, junto às esferas estadual e federal, para realizar a reforma. Após visitas, vistorias e transferência dos documentos que compõem o arquivo, o espaço foi beneficiado pela instalação de tapumes, visando inibir a ação de vândalos. Segundo Paulo Atto, também existem projetos de recuperação da Casa Jorge Amado e do Centro Cultural de Olivença.

Aniversário - No momento em que Ilhéus se prepara para comemorar 479 anos de fundação e 132 anos de elevação à categoria de cidade, o governo municipal firma uma aliança com a população e com os segmentos organizados para preservar o imenso patrimônio cultural e histórico do município. Nesse contexto, o Quarteirão Jorge Amado permanece sendo um dos principais atrativos culturais do município. O espaço inclui o Bataclan, casa noturna que representou o apogeu do cacau nos anos 20, e o Bar Vesúvio, cujos proprietários inspiraram a criação dos personagens ‘Gabriela’ e ‘Nacib’, do romance Gabriela, Cravo e Canela. 

Ainda no bojo do roteiro amadiano, outra grande atração ilheense é a Casa de Cultura que leva o nome do escritor e que foi construída na década de 20 por seu pai, João Amado de Farias. O imóvel, que abriga um interessante acervo de Jorge, possui uma linda pintura artística no teto, azulejos portugueses e um piso trabalhado em madeiras nobres da região. Outro destaque do Quarteirão é a Casa de Tonico Pessoa, filho do Coronel Antônio Pessoa da Costa e Silva, que inspirou a criação do inesquecível personagem Tonico Bastos. 

Prédios - Com quase cinco séculos de existência, Ilhéus possui um riquíssimo conjunto de prédios públicos que contam um pouco de sua história. Construído em 1905 sobre as ruínas do Colégio Jesuíta para receber a Intendência Municipal, o Palácio Paranaguá, que hoje abriga a sede do Poder Executivo, foi inaugurado em 1907. Já o Palacete Misael Tavares, cujo prédio pertence atualmente à Loja Maçônica Regeneração Sul Baiana, foi inaugurado em 1922.

Nesse diapasão, também se encontram a antiga residência do coronel Domingos Adami de Sá e o Ilhéus Hotel, construído em 1930 para hospedar viajantes e comerciantes que desembarcavam na cidade. Outro ícone histórico-arquitetônico da cidade é o Teatro Municipal de Ilhéus, considerado até hoje como um dos mais importantes e tradicionais do interior do Nordeste. Inaugurado em 1932, o então cine-teatro recebeu companhias renomadas, sendo palco de grandes e inesquecíveis espetáculos. Depois de um período de abandono, foi recuperado em 1986, durante o primeiro mandato (1983-1988) do prefeito Jabes Ribeiro. 

Ícones da fé – Outra atração bastante elogiada por turistas é o conjunto de templos e igrejas existente no município. No distrito de Rio do Engenho, o visitante tem a oportunidade de conhecer a capela de Senhora Santana, erguida no século XVII e considerada a terceira capela rural mais antiga do país. O espaço, que pertenceu à família de Mem de Sá, encontra-se tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

Além da capela de Senhora Santana, o município ainda possui a Catedral de São Sebastião, construída em estilo neoclássico, com vitrais artísticos que reproduzem cenas bíblicas, o Convento de Nossa Senhora da Piedade, edificado em estilo neogótico, e a Igreja Matriz de São Jorge dos Ilhéus, erguida na segunda década do século XVIII em estilo barroco-colonial.
Calendário – Como parte dos esforços para fomentar ainda mais as políticas culturais do município, a Secretaria de Cultura (Secult) acaba de divulgar seu calendário de atividades para os próximos seis meses. No período de 11 a 18 de agosto, reunindo uma série de esquetes de rua e atividades de sarau literário, a Secult realizará o Projeto Literário “Caravana Canto das Letras”, desenvolvido em parceira com o Ministério da Cultura (MinC) e com a Biblioteca Nacional. Nos meses de julho, agosto e setembro, a programação contemplará a oferta de três cursos ligados aos legados sociais da SECOPA/UNEB: “Gestão Empreendedora para Artesãos”, “Gestão Pública” e “Interpretação de Patrimônio”.

O Programa Rodas de Leitura será realizado em parceria com a Fundação Brasil Campeão, de São Paulo, no mês de julho, com a capacitação acontecendo de agosto a outubro, e o encerramento e avaliação a partir de dezembro. Outro destaque da programação é o Festival Latino-Americano de Teatro (Filte Ilhéus), evento que contará, no período de 3 a 8 de setembro, com a apresentação de espetáculos variados, sendo dois estrangeiros, dois nacionais e dois locais. O calendário também abre espaço para a Semana da Diversidade, com ênfase para um seminário sobre as políticas e ações no âmbito do segmento LGBT, o Festival de Teatro Infantil que acontecerá durante todo o mês de outubro, com oficinas e espetáculos, e o Mês da Consciência Negra, em novembro, com a promoção de diversos eventos, entre eles o I Seminário Municipal da Juventude Negra.

História – A história de Ilhéus tem início a partir da doação de uma vasta extensão de terra do rei português dom João III ao donatário Jorge de Figueiredo Correia. Acostumado ao luxo da corte, Correia preferiu enviar em seu lugar o espanhol Francisco Romero, homem de trato difícil que ficaria responsável pela administração da capitania e pela pacificação dos índios tupiniquins. A carta da doação da Capitania de Ilhéus a Jorge de Figueiredo Correia foi assinada em Évora, no dia 26 de junho de 1534.

Em 1754, o governo português acabou com o sistema de capitanias hereditárias e as terras brasileiras voltaram para as mãos do governo. Na segunda metade do século XIX, teve início o plantio de cacau. Em 1746, Antonio Dias Ribeiro recebeu algumas sementes do colonizador francês Luiz Frederico Warneau, do Pará, e introduziu o cultivo na Bahia. O primeiro plantio nesse estado foi feito na fazenda Cubículo, às margens do rio Pardo, no atual Município de Canavieiras. Em 1752, foram feitos plantios no Município de Ilhéus. 

Com a vinda de mudas de cacaueiros da Amazônia e sua notável adaptação às condições climáticas da região, Ilhéus viu brilhar, diante de si, um novo eldorado. Começa aí a caminhada da chamada civilização do cacau, formada por homens e mulheres que construíram uma região e contribuíram, por muitos e muitos anos, para a riqueza da Bahia e do Brasil.

O cultivo do cacau passou a gerar um número sem fim de histórias, recheadas de cobiça, amores e lutas pelo poder, realidade que acabou se transformando, posteriormente, em um terreno fértil para os romances de escritores, como Adonias Filho e Jorge Amado, nos quais se narram as relações apaixonadas dos coronéis com as terras, o dinheiro e as mulheres.
Em 28 de junho de 1881, finalmente, Ilhéus foi elevada à categoria de cidade, numa ação referendada pelo Marquês de Paranaguá. Em 1913, a cidade foi transformada em bispado. O governo brasileiro passou a doar terras a quem quisesse plantar cacau. Vieram sergipanos e pessoas fugidas da seca do nordeste, do próprio estado e de vários outros locais do país.


Da - Secretaria de Comunicação Social (Secom)
Ilhéus - 27.06.2013

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